Estava sentado no degrau da porta.
encostado à ombreira,
numa rua de ligação, sem montras,
onde só passam carros e as pessoas a encurtar caminho.
A face pálida, boca entreaberta,
barba por fazer e o cabelo em repas desoladas.
Dificilmente respirava, nada seguia com os olhos,
era muito abertos, ora piscando muito.
No regaço, e protegido pelos joelhos agudos,
tinha um boné no qual
esmolavam os transeuntes.
Da lapela, preso por um alfinete,
pendia amarrotado e sujo um boletim
da Assistência Nacional aos Tuberculosos.
Era o cartão de visita, o bilhete
de identidade, a certidão, a carta
de curso, a apólice de seguro,
o título do Estado.
E no boné, como se vê, caía o juro.
Jorge de Sena, 25 de junho de 1946.
Sem comentários:
Enviar um comentário