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sábado, 17 de outubro de 2015
78. O meu amor mariñeiro (Poema de Manuel Alegre, interpretado por Fuxan Os Ventos)
"O meu amor mariñeiro" é uma canção composta pelo grupo galego "Fuxan os Ventos", com letra em galego de Lois Álvarez Pousa, adaptada do poema "A Trova do Amor Lusíada", original em português do poeta Manuel Alegre, com música de Xosé L. Rivas Cruz.
O meu amor mariñeiro
Meu amor é mariñeiro
e vive no alto mar;
son os seus brazos o vento
ninguén llos pode amarrar.
Meu amor é mariñeiro
e cando me ven falar
pon un carabel nos beizos
no corazón un cantar.
EU SON LIBRE COMO AS AVES
E PASO A VIDA A CANTAR;
CORAZÓN QUE NACE LIBRE
NON SE PODE ENCADEAR.
Traio un navío nas veas
eu nacín pra mariñar;
quen tente porme cadeas
háme primeiro matar!
Vale máis ser libre un día
no confín do bravo mar,
que vivir toda a vida,
preso, escravo e a calar!
El vive alá lonxe, lonxe,
onde brúa o bravo mar,
e coa súa forza inmorrente
onda nós ha de voltar!
EU SON LIBRE COMO AS AVES
E PASO A VIDA A CANTAR;
CORAZÓN QUE NACE LIBRE
NON SE PODE ENCADEAR.
Nun momento, de repente,
eu sei que un día virá,
como se o mar e o vento,
en nós abrise a cantar.
HEI PASAR POLO LUGARES
COMO O VENTO NO AREAL
ABRIR TÓDALAS VENTANAS
COA ESCRAVITUDE ACABAR!
Polas rúas das ciudades
hei de pasar a cantar,
traguendo na mau direita
a espada da libertá.
Como se un navío entrase
de supeto, na ciudá,
traguendo a voar no mástil
bandeiras de libertá!
HEI PASAR POLO LUGARES
COMO O VENTO NO AREAL
ABRIR TÓDALAS VENTANAS
COA ESCRAVITUDE ACABAR!
-------------------------
TROVA DO AMOR LUSÍADA
Meu amor é marinheiro
quando suas mãos me despem
é como se o vento abrisse
as janelas do meu corpo.
Quando seus dedos me tocam
é como se no meu sangue
nadassem todos os peixes
que nadam no mar salgado.
Meu amor é marinheiro.
Quando chega à minha beira
acende um cravo na boca
e canta desta maneira:
- Eu sou livre como as aves
e passo a vida a cantar
coração que nasceu livre
não se pode acorrentar.
Trago um navio nas veias
eu nasci para marinheiro
quem quiser pôr-me cadeias
há-de matar-me primeiro.
Meu amor é marinheiro
e mora no alto mar
seus braços são como o vento
ninguém os pode amarrar.
Quando chega à minha beira
todo o meu sangue é um rio
onde o meu amor aporta
seu coração - um navio.
Meu amor disse que eu tinha
uns olhos como gaivotas
e uma boca onde começa
o mar de todas as rotas.
Meu amor disse que eu tinha
na boca um gosto a saudade
e uns cabelos onde nascem
os ventos e a liberdade.
(…)
Manuel Alegre
Interpretação de Adriano Correia de Oliveira - aqui
Interpretação de Anabela - aqui
--------------------------------------------------
O meu amor é marinheiro
Meu amor é marinheiro
Meu amor é marinheiro
E mora no alto mar
Seus braços são como o vento
Ninguém os pode amarrar.
Quando chega à minha beira
Todo o meu sangue é um rio
Onde o meu amor aporta
Meu coração - um navio.
Meu amor disse que eu tinha
Na boca um gosto a saudade
E uns cabelos onde nascem
Os ventos e a liberdade.
Meu amor é marinheiro
Quando chega à minha beira
Acende um cravo na boca
E canta desta maneira.
Eu vivo lá longe, longe
Onde moram os navios
Mas um dia hei-de voltar
Às águas dos nossos rios.
Hei-de passar nas cidades
Como o vento nas areias
E abrir todas as janelas
E abrir todas as cadeias.
Assim falou meu amor
Assim falou-me ele um dia
Desde então eu vivo à espera
Que volte como dizia.
Manuel Alegre
Interpretado por Amália Rodrigues, com música de Alain Oulman - aqui
Interpretado por Maria Bethânia - aqui
77. Como Ulisses te busco e desespero (Manuel Alegre)
COMO ULISSES TE BUSCO E DESESPERO

Como Ulisses te busco e desespero
como Ulisses confio e desconfio
e como para o mar se vai um rio
para ti vou. Só não me canta Homero.
Mas como Ulisses passo mil perigos
escuto a sereia e a custo me sustenho
e embora tenha tudo nada tenho
que em te não vendo tudo são castigos.
Só não me canta Homero. Mas como Ulisses
vou com meu canto como um barco
ouvindo o teu chamar ‑ Pátria Sereia
Penélope que não te rendes – tu
que esperas a tecer um tempo ideia
que de novo teu povo empunhe o arco
como Ulisses por ti nesta odisseia.
Manuel Alegre, Praça da Canção/O Canto e As Armas
Como Ulisses te busco e desespero
como Ulisses confio e desconfio
e como para o mar se vai um rio
para ti vou. Só não me canta Homero.
Mas como Ulisses passo mil perigos
escuto a sereia e a custo me sustenho
e embora tenha tudo nada tenho
que em te não vendo tudo são castigos.
Só não me canta Homero. Mas como Ulisses
vou com meu canto como um barco
ouvindo o teu chamar ‑ Pátria Sereia
Penélope que não te rendes – tu
que esperas a tecer um tempo ideia
que de novo teu povo empunhe o arco
como Ulisses por ti nesta odisseia.
Manuel Alegre, Praça da Canção/O Canto e As Armas
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
51.Ser ou não ser (Manuel Alegre)
SER OU NÃO SER
«Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca»
Shakespeare (Hamlet)
Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Se os novos partem e ficam só os velhos
e se do sangue as mãos trazem a marca
se os fantasmas regressam e há homens de joelhos
qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Apodreceu o sol dentro de nós
apodreceu o vento em nossos braços.
Porque há sombras na sombra dos teus passos
há silêncios de morte em cada voz.
Ofélia-Pátria jaz branca de amor.
Entre salgueiros passa flutuando.
E anda Hamlet em nós por ela perguntando
entre ser e não ser firmeza indecisão.
Até quando? Até quando?
Já de esperar se desespera. E o tempo foge
e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje.
Ah se não ser é submissão ser é revolta.
Se a Dinamarca é para nós uma prisão
e Elsenor se tornou a capital da dor
ser é roubar à dor as próprias armas
e com elas vencer estes fantasmas
que andam à solta em Elsenor.
Manuel Alegre, 1967
«Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca»
Shakespeare (Hamlet)
Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Se os novos partem e ficam só os velhos
e se do sangue as mãos trazem a marca
se os fantasmas regressam e há homens de joelhos
qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Apodreceu o sol dentro de nós
apodreceu o vento em nossos braços.
Porque há sombras na sombra dos teus passos
há silêncios de morte em cada voz.
Ofélia-Pátria jaz branca de amor.
Entre salgueiros passa flutuando.
E anda Hamlet em nós por ela perguntando
entre ser e não ser firmeza indecisão.
Até quando? Até quando?
Já de esperar se desespera. E o tempo foge
e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje.
Ah se não ser é submissão ser é revolta.
Se a Dinamarca é para nós uma prisão
e Elsenor se tornou a capital da dor
ser é roubar à dor as próprias armas
e com elas vencer estes fantasmas
que andam à solta em Elsenor.
Manuel Alegre, 1967
sábado, 19 de setembro de 2015
49. No meu país há uma palavra proibida (Manuel Alegre)
No meu país há uma palavra proibida.
Mil vezes a prenderam mil vezes cresceu.
E pulsa em nós como o pulsar da própria vida
sabe ao sal deste mar tem a cor deste céu
no meu país há uma palavra proibida.
No meu país há uma palavra que se diz
com a mesma ternura da palavra irmã.
Palavra quente como o sol do meu país
palavra clara como é cada manhã
apesar da tristeza lá no meu país.
No meu país há uma palavra que se escreve
sobre os muros à pressa pela noite dentro.
Uma palavra assim nenhuma língua a teve
tão ausência-presença tão feita de vento
tão impossível de apagá-la onde se escreve.
No meu país há uma palavra onde se guarda
tudo o que se não teve tudo o que não foi.
Por ela a humilhação fabrica uma espingarda
e há um tempo de luta no tempo que dói
nessa palavra que nos guia que nos guarda.
Palavra que murmura nos verdes pinheiros
o recado que o mar vem escrever nas areias.
Se já em nós morreram velhos marinheiros
há uma palavra que semeia em nossas veias
um país que murmura nos verdes pinheiros.
No meu país em cada homem há uma palavra
que rasga as trevas e as prisões: palavra-chave
capaz de transformar em asa a mão que lavra.
E é inútil prenderem-na que é luz e ave
no meu país em cada homem essa palavra.
Palavra feita de montanhas praias vento.
De verde pinho e mar azul. De sol. De sal.
Não vale a pena proibirem o pensamento.
Há uma palavra clandestina em Portugal
que se escreve com todas as harpas do vento.
Manuel Alegre, O Canto e As Armas, 1967
Mil vezes a prenderam mil vezes cresceu.
E pulsa em nós como o pulsar da própria vida
sabe ao sal deste mar tem a cor deste céu
no meu país há uma palavra proibida.
No meu país há uma palavra que se diz
com a mesma ternura da palavra irmã.
Palavra quente como o sol do meu país
palavra clara como é cada manhã
apesar da tristeza lá no meu país.
No meu país há uma palavra que se escreve
sobre os muros à pressa pela noite dentro.
Uma palavra assim nenhuma língua a teve
tão ausência-presença tão feita de vento
tão impossível de apagá-la onde se escreve.
No meu país há uma palavra onde se guarda
tudo o que se não teve tudo o que não foi.
Por ela a humilhação fabrica uma espingarda
e há um tempo de luta no tempo que dói
nessa palavra que nos guia que nos guarda.
Palavra que murmura nos verdes pinheiros
o recado que o mar vem escrever nas areias.
Se já em nós morreram velhos marinheiros
há uma palavra que semeia em nossas veias
um país que murmura nos verdes pinheiros.
No meu país em cada homem há uma palavra
que rasga as trevas e as prisões: palavra-chave
capaz de transformar em asa a mão que lavra.
E é inútil prenderem-na que é luz e ave
no meu país em cada homem essa palavra.
Palavra feita de montanhas praias vento.
De verde pinho e mar azul. De sol. De sal.
Não vale a pena proibirem o pensamento.
Há uma palavra clandestina em Portugal
que se escreve com todas as harpas do vento.
Manuel Alegre, O Canto e As Armas, 1967
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
47. As palavras (Manuel Alegre)
AS PALAVRAS
Palavras tantas vezes perseguidas
palavras tantas vezes violadas
que não sabem cantar ajoelhadas
que não se rendem mesmo se feridas.
Palavras tantas vezes proibidas
e no entanto as únicas espadas
que ferem sempre mesmo se quebradas
vencedoras ainda que vencidas.
Palavras por quem eu já fui cativo
na língua de Camões vos querem escravas
palavras com que canto e onde estou vivo.
Mas se tudo nos levam isto nos resta:
estamos de pé dentro de vós palavras.
Nem outra glória há maior do que esta.
Manuel Alegre, O Canto e As Armas, 1967
Palavras tantas vezes perseguidas
palavras tantas vezes violadas
que não sabem cantar ajoelhadas
que não se rendem mesmo se feridas.
Palavras tantas vezes proibidas
e no entanto as únicas espadas
que ferem sempre mesmo se quebradas
vencedoras ainda que vencidas.
Palavras por quem eu já fui cativo
na língua de Camões vos querem escravas
palavras com que canto e onde estou vivo.
Mas se tudo nos levam isto nos resta:
estamos de pé dentro de vós palavras.
Nem outra glória há maior do que esta.
Manuel Alegre, O Canto e As Armas, 1967
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
44. Trova do vento que passa (Poema: Manuel Alegre; Música: Alain Oulman; Voz: Amália Rodrigues)
Poema: Manuel Alegre
Música: Alain Oulman
Voz: Amália Rodrigues

Trova do vento que passa
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre,
Praça da Canção, 1965.
domingo, 13 de setembro de 2015
43. Como ouvi Linda cantar por seu amigo José (Manuel Alegre)
COMO OUVI LINDA CANTAR POR SEU AMIGO JOSÉ
Se sabeis novas do meu amigo
novas dizei-me que vou morrendo
por meu amigo que me levaram
num carro negro de madrugada.
Dizei-me novas do meu amigo
em sua torre tecendo os dias
dai-me palavras pra lhe mandar
com ruas brisa domingos sol.
Se sabeis novas de meu amigo
novas dizei-me que desespero
por meu amigo que longe espera
tecendo os dias tecendo a esperança.
Mando recados não sei se chegam
leva-me ó vento da noite triste
ou diz-me novas de meu amigo
que tece o tempo na torre negra.
Que tece o tempo que tece a esperança.
Já da ternura fiz uma corda
ó vento prende-a na torre negra
que meu amigo por ela desça.
Por essa corda feita de lágrimas
que meu amigo por ela desça
ou mande a esperança que vai tecendo
que desespero sem meu amigo.
Manuel Alegre, Praça da Canção/O Canto e As Armas,(1965) 1.ª ed. de bolso, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2000, pp. 85-86
Se sabeis novas do meu amigo
novas dizei-me que vou morrendo
por meu amigo que me levaram
num carro negro de madrugada.
Dizei-me novas do meu amigo
em sua torre tecendo os dias
dai-me palavras pra lhe mandar
com ruas brisa domingos sol.
Se sabeis novas de meu amigo
novas dizei-me que desespero
por meu amigo que longe espera
tecendo os dias tecendo a esperança.
Mando recados não sei se chegam
leva-me ó vento da noite triste
ou diz-me novas de meu amigo
que tece o tempo na torre negra.
Que tece o tempo que tece a esperança.
Já da ternura fiz uma corda
ó vento prende-a na torre negra
que meu amigo por ela desça.
Por essa corda feita de lágrimas
que meu amigo por ela desça
ou mande a esperança que vai tecendo
que desespero sem meu amigo.
Manuel Alegre, Praça da Canção/O Canto e As Armas,(1965) 1.ª ed. de bolso, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2000, pp. 85-86
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
16. Corpo Renascido
1970
Poema (letra): Manuel Alegre
Voz: Francisco Fanhais
Música Pedro Lobo Antunes.
Corpo renascido
canção
Toco-te e respiras
sangue do meu sangue.
Cantando é como se dissesse: estou aqui.
Cantando eu nego o que me nega
acto de amor
coração perpendicular ao tempo.
Cantando é como se dissesse: estou aqui
na multidão que está dentro de mim.
Recuso a morte cantando
recuso a solidão.
Canção casa do mundo
viagem do homem para o homem
meu pedaço de pão rosa de maio
criança a rir na madrugada.
Cavalos correm nos teus campos
crinas ao vento
são os cavalos indomáveis que te levam
aos quatro cantos do mundo.
Lá onde um homem tiver sede
levarás teus cântaros
lá onde um homem tiver fome
levará teu pão.
Lá onde a liberdade foi assassinada
os teus cavalos livres levarás
e a espada refulgente
levarás ao teu sol canção.
Folha a folha desfolhada
folha a folha renascida
assim tu és canção:
viagem do homem para o homem.
Manuel Alegre, 1969.
MANUEL ALEGRE
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
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