domingo, 2 de agosto de 2015

1. Justiça

Outrora foste a mãe abençoada
Dos bons, dos virtuosos e inocentes,
Enquanto que aos teus pés iam, trementes,
Os maus, pelo rigor da tua espada.
Hoje, prostituída e desbragada,
Vendida a consciência aos prepotentes,
És capa de maldosos e impudentes
E andas até com eles de mão dada.
Ao ponto que há-de ver-se um belo dia,
Nas folhas publicadas esta notícia:
"Meteram ontem à noite na enxovia
Uma rameira célebre - a Justiça.
Foi presa por andar na Mouraria
Desacatando as ordens da polícia."
Dizem que tu és a Justiça?!
Ah! Loucura! Ah! Ilusão!
Tu és da raça mestiça
Do ouro e da corrupção!
Abre os teus olhos Justiça!
De que te serve a balança?
Desvirtuou-te a cobiça,
Em ti já não há confiança!

Alexandre José Alves
(publicado na Guitarra de Portugal, a 29 de setembro de 1929)

Sem comentários:

Enviar um comentário